sexta-feira, 4 de abril de 2014



A importância do Permitir na Alfabetização


Para que a alfabetização ocorra é preciso permitir. Pais, professores e alunos devem estar engajados nesse foco. 
Alguns pais na intenção de deixar cadernos bem escritos, bem ilustrados, bem feitos; fazem tudo pelo aluno.
Há alunos que no medo de errar, de não fazer como a professora quer; tremem com qualquer questionamento.

Meu objetivo nesse texto é falar sobre as hipóteses de escrita e no quanto os pais prejudicam a alfabetização quando não "permitem" aos filhos fazerem por si só.
Qualquer estudante de pedagogia ou magistério conhece as Hipóteses de Escrita. Permitir que a criança escreva, ao seu modo, palavras e frases - sem a interferência de pessoas já alfabetizadas. 
Quando solicito que meu aluno escreva palavras do seu jeito, é exatamente isso que quero! Não há certo ou errado! Existe um processo de alfabetização em andamento e cada vez que um pai tenta ajudar ou faz para o filho a tarefa de casa ele estabelece um certo. O que for diferente está errado.
A criança então, na sala de aula, teme realizar as atividades. "Não sei". "Tá certo, professora?" E como é difícil romper com a ideia de certo e errado. Já vi alunos que liam balbuciando, jamais em voz alta, por medo! Medo de errar. Medo de ser punido!
Permitam que seus filhos explorem suas ideias. Criem estratégias! Não importa se está certo, bonito. Importa o que ele fez, o que ele alcançou dentro do processo de aprendizagem dele.
Nessa sociedade de competição feroz ensinamos muito cedo que fracassar é ruim. Errar não é permitido.
Vamos nos permitir! Explorar, construir, desconstruir...aprender, desaprender!

Quer entender um pouco sobre as Hipóteses de Escrita? 










quarta-feira, 19 de março de 2014

A pesquisa como princípio educativo


Prof. Pedro Demo
Hoje, professores reuniram-se na UniRitter, Porto Alegre/RS, para prestigiar a palestra de Pedro Demo; A pesquisa como princípio educativo: desafios para a organização da ação pedagógica e do currículo do Ensino Médio.

A palestra foi aberta pela apresentação da Orquestra Villa Lobos; um trabalho social realizada na rede pública com incentivo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e patrocínio da Petrobras.
Uma linda apresentação com clássicos da música brasileira além de sucessos internacionais. Aqui podemos perceber como o incentivo público e o desejo de adolescentes pode produzir algo de grandeza sublime e tocante, prestigiado e aplaudido, em pé, por longos minutos, pela plateia de professores e graduandos presentes.


Após essa breve sensibilização, iniciou a palestra com o professor Dr. Pedro Demo. Da sua explanação apresento alguns pontos:

  • Aprendizagem com autoria: O aluno deve produzir a partir da sua aprendizagem em sala de aula. Sua produção vai demonstrar a aprendizagem produzida e não apenas copiada. Cópia não ensina! "Na escola não há aprendizagem. Há só aulas". Os dados trazidos por Demo demonstram que entre os anos de 1995 e 2012 há um decréscimo nas aprendizagens produzidas em Português e Matemática; justamente num período onde há ampliação do tempo dos alunos na escola; de 180 dias letivos para 200. Ou seja, os alunos ficam 20 dias a mais dentro da escola e isso vem, ao contrário do que se pensava, prejudicando o ensino. Acredito que há muitas variáveis para que isso aconteça e cabe aos educadores e principalmente às mantenedoras perceberem o que os dados dizem: Por que o ensino piorou? Que projeto ou mudanças didáticas ocorreram na escola para receber os alunos por mais tempo? Que currículo temos? Que objetivos queremos alcançar? Que conteúdos preciso ensinar?
  • Professor Pesquisador: Se ao aluno cabe produzir, criar, ao professor cabe pesquisar. O professor deve ter uma ação investigadora para poder instigar o aluno à prática da investigação. "O professor ensina o que produz", então, se o professor não pesquisa, não pode ensinar nada. E aqui temos muitas considerações a serem feitas. Se o professor ensina o que produz, como pode ele ensinar algo que não foi produzido com ele? As Universidades, apesar de todo incentivo à pesquisa com bolsas, ainda se restringe a determinadas faculdades, deixando muito a desejar naquelas voltadas para a licenciatura ou ainda, como já ouvia muito na minha época de graduação, pesquisa-se para pesquisadores e não para o público alheio a esse espaço cultural e científico. A pesquisa deve voltar-se ao grande público, deve aguçar seus sentidos de curiosidade e incentivá-los a querer saber mais. O professor que copia-cola produz alunos copia-cola. Não há como ser diferente.
  • Crítica-autocrítica: Além de educar para a criticidade cabe à escola educar também para autocrítica. Saber criticar, utilizando-se de conhecimento e boa educação (afinal só posso ter posicionamento sobre algum assunto se conhecê-lo e expor minhas ideias de uma forma a não me fazer autoritário diante os demais). Ser autocrítico é saber ouvir mais do que falar, e saber abrir mão. "A felicidade só vem com a renúncia". Aqui é importante ter em mente que o professor figura como um mediador da aprendizagem, e não do ensino. Ele não pode ter a luz e manter o aluno na escuridão. Em sala de aula ainda temos a presença da visão de que o professor é o detentor do conhecimento e que o aluno sabe menos. Essa não é uma postura de pesquisador; muito menos de agentes críticos. 
  • Coisa pobre para pobre: Aqui, talvez, tivemos a fala mais provocadora do Prof. Demo. Destacamos então as políticas públicas que, em suas práticas controversas, estabelecem tempo para a aprendizagem - focando exatamente na alfabetização; que agora se estende do 1º ao 3º Ano, com progressão automática. Salienta-se aqui a necessidade, a pressa dos grupos menos favorecidos em aprender. Como posso estender o processo de aquisição da leitura e da escrita para pessoas que estão ali agora mas que talvez não tenham tempo de estar ali daqui a 3 anos?! Esses grupos têm urgência em apreender o máximo possível. Não podem perder tempo. Nossas políticas públicas são "coisa de pobre para pobre". Nada se altera. Tudo permanece. Mudam nomes, estabelecem exigências mas as estratégias em si, permanecem e não modificam de fato o contexto cultural, científico e social que deveria ser a escola.
  • Conhecimento para o desenvolvimento:  Fala importante e de destaque foi a referente ao conteúdo lecionado nas escolas. Temos uma cultura que centraliza tudo que é de fora como bom, eliminando assim, como objetos de estudo de interesse e importância, tudo que faz parte de nós. Assim, ignoramos e excluímos a história de nossos nativos, do negro e supervalorizamos o que é produzido além dos limites da Terra Brasilis. Com essa ação, estamos fadados ao subdesenvolvimento, pois só aquele que conhece e busca o conhecimento - sendo a pesquisa a forma de concretizá-la de forma real e não temporária - é capaz de crescer, evoluir e transcender aos limites impostos pelos que estão no poder.

Para saber mais sobre as pesquisas de Pedro Demo:
Pedro Demo fala sobre Educação pela Pesquisa
A criança é um grande pesquisador