quarta-feira, 19 de março de 2014

A pesquisa como princípio educativo


Prof. Pedro Demo
Hoje, professores reuniram-se na UniRitter, Porto Alegre/RS, para prestigiar a palestra de Pedro Demo; A pesquisa como princípio educativo: desafios para a organização da ação pedagógica e do currículo do Ensino Médio.

A palestra foi aberta pela apresentação da Orquestra Villa Lobos; um trabalho social realizada na rede pública com incentivo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e patrocínio da Petrobras.
Uma linda apresentação com clássicos da música brasileira além de sucessos internacionais. Aqui podemos perceber como o incentivo público e o desejo de adolescentes pode produzir algo de grandeza sublime e tocante, prestigiado e aplaudido, em pé, por longos minutos, pela plateia de professores e graduandos presentes.


Após essa breve sensibilização, iniciou a palestra com o professor Dr. Pedro Demo. Da sua explanação apresento alguns pontos:

  • Aprendizagem com autoria: O aluno deve produzir a partir da sua aprendizagem em sala de aula. Sua produção vai demonstrar a aprendizagem produzida e não apenas copiada. Cópia não ensina! "Na escola não há aprendizagem. Há só aulas". Os dados trazidos por Demo demonstram que entre os anos de 1995 e 2012 há um decréscimo nas aprendizagens produzidas em Português e Matemática; justamente num período onde há ampliação do tempo dos alunos na escola; de 180 dias letivos para 200. Ou seja, os alunos ficam 20 dias a mais dentro da escola e isso vem, ao contrário do que se pensava, prejudicando o ensino. Acredito que há muitas variáveis para que isso aconteça e cabe aos educadores e principalmente às mantenedoras perceberem o que os dados dizem: Por que o ensino piorou? Que projeto ou mudanças didáticas ocorreram na escola para receber os alunos por mais tempo? Que currículo temos? Que objetivos queremos alcançar? Que conteúdos preciso ensinar?
  • Professor Pesquisador: Se ao aluno cabe produzir, criar, ao professor cabe pesquisar. O professor deve ter uma ação investigadora para poder instigar o aluno à prática da investigação. "O professor ensina o que produz", então, se o professor não pesquisa, não pode ensinar nada. E aqui temos muitas considerações a serem feitas. Se o professor ensina o que produz, como pode ele ensinar algo que não foi produzido com ele? As Universidades, apesar de todo incentivo à pesquisa com bolsas, ainda se restringe a determinadas faculdades, deixando muito a desejar naquelas voltadas para a licenciatura ou ainda, como já ouvia muito na minha época de graduação, pesquisa-se para pesquisadores e não para o público alheio a esse espaço cultural e científico. A pesquisa deve voltar-se ao grande público, deve aguçar seus sentidos de curiosidade e incentivá-los a querer saber mais. O professor que copia-cola produz alunos copia-cola. Não há como ser diferente.
  • Crítica-autocrítica: Além de educar para a criticidade cabe à escola educar também para autocrítica. Saber criticar, utilizando-se de conhecimento e boa educação (afinal só posso ter posicionamento sobre algum assunto se conhecê-lo e expor minhas ideias de uma forma a não me fazer autoritário diante os demais). Ser autocrítico é saber ouvir mais do que falar, e saber abrir mão. "A felicidade só vem com a renúncia". Aqui é importante ter em mente que o professor figura como um mediador da aprendizagem, e não do ensino. Ele não pode ter a luz e manter o aluno na escuridão. Em sala de aula ainda temos a presença da visão de que o professor é o detentor do conhecimento e que o aluno sabe menos. Essa não é uma postura de pesquisador; muito menos de agentes críticos. 
  • Coisa pobre para pobre: Aqui, talvez, tivemos a fala mais provocadora do Prof. Demo. Destacamos então as políticas públicas que, em suas práticas controversas, estabelecem tempo para a aprendizagem - focando exatamente na alfabetização; que agora se estende do 1º ao 3º Ano, com progressão automática. Salienta-se aqui a necessidade, a pressa dos grupos menos favorecidos em aprender. Como posso estender o processo de aquisição da leitura e da escrita para pessoas que estão ali agora mas que talvez não tenham tempo de estar ali daqui a 3 anos?! Esses grupos têm urgência em apreender o máximo possível. Não podem perder tempo. Nossas políticas públicas são "coisa de pobre para pobre". Nada se altera. Tudo permanece. Mudam nomes, estabelecem exigências mas as estratégias em si, permanecem e não modificam de fato o contexto cultural, científico e social que deveria ser a escola.
  • Conhecimento para o desenvolvimento:  Fala importante e de destaque foi a referente ao conteúdo lecionado nas escolas. Temos uma cultura que centraliza tudo que é de fora como bom, eliminando assim, como objetos de estudo de interesse e importância, tudo que faz parte de nós. Assim, ignoramos e excluímos a história de nossos nativos, do negro e supervalorizamos o que é produzido além dos limites da Terra Brasilis. Com essa ação, estamos fadados ao subdesenvolvimento, pois só aquele que conhece e busca o conhecimento - sendo a pesquisa a forma de concretizá-la de forma real e não temporária - é capaz de crescer, evoluir e transcender aos limites impostos pelos que estão no poder.

Para saber mais sobre as pesquisas de Pedro Demo:
Pedro Demo fala sobre Educação pela Pesquisa
A criança é um grande pesquisador

 




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